quinta-feira, 4 de junho de 2009

A ARTE DE INTITULAR


JOICE ANDREIA BALBOA


Ensaio submetido à Universidade Federal de Santa Catarina para a apreciação da dis-ciplina de Redação II do segundo semestre do curso de Graduação em Jornalismo.
Professor orientador: Elias Machado


INTRODUÇÃO

Designação que se põe no começo de livro, capítulo, etc., e indica o assunto. Ró-tulo; letreiro. Denominação honorífica. Designação, nome. Subdivisão de código, orça-mento, etc. Objeto, causa. Documento que autentica um direito. Qualquer papel negoci-ável. Relação entre o metal fino duma liga e o total desta. Estas são as definições encon-tradas no dicionário Aurélio para título. A elaboração de um título jornalístico, é mais do que isso, deve “chamar a atenção do leitor, de forma objetiva, clara, apelativa, resumida, capaz de prender qualquer um que lhe ponha os olhos e de lavá-lo ao texto”, Luiz A-maral.

É o título que abre a notícia em veículos impressos, e juntamente com o lide “a-nuncia uma mercadoria, o produto oferecido pelo jornalismo na indústria cultural”, A-delmo. O título, em jornalismo, é o resumo do que se quer noticiar, deve ter algo de novo, “o lide é a amplificação do título; e o título, uma síntese do lide”, Zanotti.

A aceitação do público requer que os títulos tenham palavras curtas e usuais, além de serem empregadas em estilo correto. Para todas as regras de como fazer títulos exis-tem muitos manuais e livros que tratam do assunto, neste ensaio, o tema será abordado de forma direta e sucinta, também um pouco da evolução dos títulos desde o início da prática do jornalismo.


1. UM POUCO DE HISTÓRIA


O título usado em jornais nem sempre teve o formato que tem hoje. Conforme o estudo feito sobre o assunto, foi se descobrindo qual a melhor forma de empregá-lo e seu papel foi alterado e aperfeiçoado na medida em que a atividade jornalística passou a acompanhar as transformações da sociedade, pelo processo de industrialização. No iní-cio da imprensa era costume usar o título-rótulo, que anuncia apenas o campo em que se dará a informação, ver figura 1.












Figura 1– The Sun, 28 de julho de 1879

Em 1860 com a guerra civil americana, os editores começaram a perceber a im-portância do título, “passaram a dedicar-lhes mais atenção, chegando a usar toda uma coluna (na vertical!) para escrevê-lo”, Zanotti, os títulos não eram muito agradáveis de ler, por causa da estética e por serem irregulares, “dando a impressão de existirem várias notícias num mesmo espaço vertical, uma abaixo da outra”, continua Zanotti.

Apenas em 1890, com a guerra hispano-norte-americana, que os títulos passaram a ser colocados na horizontal. Os editores Joseph Pulitzer, do “New York Journal”, e Willian Randolph Hearst, do “New York World ”, ao perceberem a influência do aspecto tipográfico na venda dos jornais, iniciam uma briga para conquistar o mercado, o que Melo chama de “guerra jornalística”. No Brasil, o estilo chegou só em 1966, no Jornal da Tarde, ver figura 2.












Figura 2 – Jornal da Tarde de Juiz de Fora, 1966.

Em 1930, Earle Martin, edi tor do “Cleveland News”, acreditava que menos de 10% dos leitores liam algo a mais que os títulos dos jornais, transformando o seu jornal, que passou a ter títulos em blocos informativos, ele retirou os elementos acessórios ao título principal que existiam dentro do texto, como subtítulo palavras em corpo maior, novos títulos dentro do texto, textos em caixa alta entre outros. Proposta essa, que se espalhou pelo mundo e dura até hoje.

Para Melo, a paginação dos jornais e os títulos adquirem novas formas somente quando a imprensa se transforma em uma indústria de notícia. Segundo Satori (citado por Comassetto), os títulos, que “era m apenas meras fórmulas para separar diferentes tipos de textos ou indicar diferenças temáticas dos mesmos”, e eram pouco maiores que o corpo do texto, se tornam uma função estética e expressiva no final do século XIX, quando a imprensa começa a se popularizar.


2. O ESTUDO DO TÍTULO


1. Conceitos

O título orienta a compreensão para a estrutura de relevância na exposição das notícias. É uma peça mais importante que o lide, po is sem um título agradável o público sequer chega a ler o lide. “Não precisa falar demais. Precisa, sim, dizer muito com pou-cas palavras”, Comassetto. O leitor de jornais espera uma in formação correta, rápida e fácil. Zanotti lembra que o jornalismo não é literatura e que, assim sendo, não há por que desvendar ao leitor, "apenas na última linha, que o crime foi praticado pelo mordomo", exemplifica. "O jornalismo escancara a informação e o faz com honestidade", diz ele.

A função de um título, é que o o leitor se interesse pelo texto que o segue. O momento em que se elabora um título “é o instante em que o jornalista sintetiza em uma frase a notícia que tem em mãos e que deseja revelar ao seu leitor”, Carlos Alberto.

“A maioria dos leitores de um jornal lê apenas o título da maior parte dos textos editados. Por isso, ele é de alta importância. Ou o título é tudo que o leitor vai ler sobre o assunto ou é o fator que vai motivá-lo ou não a enfrentar o texto” (FOLHA, in Títulos no jornalismo diário, ou a difícil arte de dizer apenas o essencial)

O título deve ser redigido antes do lide e do restante do texto, por que essa tarefa não é um problema do editor, "é problema de comunicação que deve ser resolvido no campo da comunicação, sendo o repórter o principal mediador desta história e, por formação acadêmica, o profissional mais habilitado a resolve-lo", Zanotti.

Já imaginou uma notícia sem título? É ai que se nota a real importância do título e o quão ele está ligado a notícia. Ele é a publicidade da notícia e fator decisivo da leitura ou não dela. E para isso o título “deve ser uma síntese precisa da informação mais im-portante do texto”, como diz no Manual da Folha.

Melo, diz que existem dois tipos de títu los: os que dão nitidamente um ponto de vista e os que simulam o conteúdo ideológico próprio ao texto. O primeiro diz respeito aos editoriais e às matérias opinativas em geral, a opinião é explícita no título e pode encontrar respaldo ou maior vigor no texto. O segundo é usado para notícias e reportagens não opinativas em geral, aqui a opinião do título reduz a carga opinativa contida no texto. Para Luiz Beltrão, a análise das manchetes de primeira página permite distinguir a personalidade política dos jornais.

Numa pesquisa feita por Albert Kientz1, ele descreve que a principal característica dos leitores diários é o interesse pela discórdia, para o pesquisador o núcleo da notícia se concentra no conflito. Logo o título tem como eleme nto principal, o conflito.

“Conflito este que, nas sociedades civilizadas, se traduz por verbos como 'ataca', 'critica', 'acusa', 'revela', 'derrota', 'lamenta', 'propõe', 'agride', 'quer'... De onde se conclui que o título bom tem que ter verbo, uma vez que este elemento da frase é o seu componente de ação.” (Zanotti)

2. Passos para fazer um bom título

Ao fazer um título é necessário levar em conta qual o referencial e a argumentação. No trecho a seguir o autor quer dizer q ue a existência do determinante, ou não, é mais relevante que o estilo, pois mostra que a ausência do artigo definido diz mais do que eliminação das palavras não lexicais.

“O título cervejaria engasga no governo já faz referência a um objeto único e delimitado: ‘Ambev’. Pode até criar certa expectativa sobre ‘qual seria esta cervejaria’, mas o leitor, provavelmente, já saberia do que se trata porque acom panha informações a respeito nos outros veículos de comunicação [...] conscientemente ou não, o autor utiliza a descrição como se não soubesse ou não quisesse partir do princípio de que ele e o leitor já tem em comum o referente ‘Ambev’[...] as raízes da nova pobreza sã o antigas ou o capitalista desapareceu, por exemplo. Podem der considerados os mais categóricos em termos de argumentação. Não apenas pressupõem a existência de referente como fazem afirmação sobre ele.”(Dittrich)

O título precisa ter u ma informação completa, “é preciso dizer ao leitor qual a ra-ção diária de novidade que se encontrará no texto”, Zanotti. Deve ser formado em uma frase em ordem direta e sempre com verbo, “o que g arante impacto e expressividade”, Comassetto. Para que não seja repetitivo recomenda-se que não se repita as mesmas palavras do início do texto. Algumas recomendações do manual da Folha servem de modelo de jornalismo que se propõe objetivo e ancorado nas recentes técnicas do mer-cado:

“a) conter necessariamente verbo, na voz ativa sempre que possível; b) estar sempre no tempo presente, exceto quando o texto se re ferir a fato distante no futuro ou no passado; c) evitar obrigatoriamente o us o de dois pontos, ponto de interrogação, ponto de exclamação, travessão, parênteses; d) empregar siglas com comedimento; e) evitar obrigatoriamente a divisão de sílabas, bem como de nomes próprios compostos, em linhas diferentes; f) preencher necessariamente todo o espaço a ele destinado na diagramação; g) evitar a reprodução literal das palavras iniciais do texto; Observação: Em qualquer tipo de texto, noticioso ou não, é proibido o uso de ponto, seja no meio, seja no fim do título.”(Manual da Folha)

Aconselha-se que o autor tenha um bom conhecimento da língua, para que possa substituir algumas palavras longas por outras com menor número de letras, mas com mesmo significado. Outro cuidado que se deve tomar aqui é que "as palavras contidas nos títulos precisam estar ao alcance do leito r médi o. É preciso trocar seis por meia-dúzia e não pela raiz quadrada de 36.", Zanotti. Uma opção é ter um bom dicionário de sinônimos ao seu lado na hora de redigir um título.

3. Pecado s ao fazer um título

Na hora de se elaborar um título devem ser tomados alguns cuidados:

1) Não dividir a palavra entre uma linha e outra;

2) Não terminar a primeira linha de um título com uma preposição;

3) Não começar um títu lo com verbo e deixar o sujeito subentendido;

4) Não produzir títulos em caixa-alta, colocá-lo em caixa-alta pode ser atraente para o autor, que sabe o que está escrito, mas p ara o leitor é um verdadeiro castigo, Zanotti.

5) Distorcer o fato com o propósito de chamar atenção do leitor, esta atitude pode fazer com que o jornal, ou veículo perca credibilidade.

6) Além disso, é necessário dar uma atenção ao uso de verbos em conjugação composta nos títulos, o que com facilidade pode levar a um erro como:

“‘Governo prevê investir R$ 30 bilhões na educação’. A conjugação com-posta é feita apenas com os verbos auxiliares – ser, estar, ter, haver, ir, vir, querer. Alternativas corretas seriam: ‘Governo prevê in vestimento de R$ 30 bilhões na educação’ ou ‘Governo quer investir R$ 30 bilhões na educa-ção’(em que ‘investir R$ 30 bilhões na educação’ tem função sintática de objeto direto).” (Manual de redação)

7) “Forçar justificativa” para esticar o título de um extremo ao outro do espaço, e outro grande erro, por que descaracteriza o padrão visual da publicação, além de desfigurar a forma da própria letra e dificultar a leitura.

8) Em conseqüência do item anterior, fazer com que um título ocupe todo o es-paço útil acima do texto a qualquer custo pode causar alguns erros fatais, como o exemplo que Zanotti dá: “O Corinthians não é páreo para o Palmeiras”, que tem artigos demais.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Quando iniciei a leitura dos livros citados pensei que eram redundantes, por que repetiam os mesmos conceitos. Mas, vi que cada um ab ordava algum aspecto mais apro-fundado que outro e que todos convergem para as mesmas idéias referente ao título.

Em primeiro lugar, o conceito mais comum entre os autores é que o título deve ter verbo, por dar uma expressão mais significativa ao título e ser a ação dele. Todos reme-tem que o título deve ter palavras claras e curtas, de preferência, e a frase deve ter uma informação. Esta informação é o resumo do conteúdo do texto.

O título é um tipo de publicidade da notícia, por isso deve ser bem elaborado para que o leitor ao lê-lo decida por ler o texto relativo a ele. Para fazer um título que supra essa necessidade é preciso ter um bom domínio da língua e não repetir, por exemplo, as palavras iniciais da notícia.

Além de todas as regras citadas, para fazer u m bom título, é necessário saber usar as palavras, como diz Luiz Amaral: "Titular é uma verdadeira arte", depende do título a venda ou não de um jornal ou periódico.


REFERÊNCIAS


AMARAL, Luiz. Tecnica de jornal e periodico. 3. ed. Fortaleza: Ed. UFC; Rio de Janei-ro: Tempo Brasileiro, 1982.

BELTRÃO, Luiz. Iniciação à filosofia do jornalismo. RJ, 1960.

COMASSETTO, Leandro Ramires. As razões do título e do lead. Uma abordagem cog-nitiva da estrutura da notícia. – Concórdia, SC: 2003.

DITTRIH, Ivo José. Ling uística e jornalismo: dos sentidos à argumentação. Cascavel: EDUNIOESTE, 2003.

GENRO FILHO, Adelmo. O segred o da pirâmide - para uma teoria marxista do jorna-lismo. Porto Alegre, Tchê, 1987.

Manual de redação: Agência do Senado, Jornal do Senado. Brasília: Senado Federal, 2003.

Manual Geral da redação: Folha de S. Paulo. SP 1984.

MELO, José Marques. A opinião no jornalismo brasileiro. Petropolis, RJ: Vozes, 1985.

ZANOTTI, Carlos Alberto . Título s no jornalismo diário, ou a difícil arte de dizer apenas o essencial. In Revista de estudos do curso de jornalismo PUC - Campinas. Campinas: IACT, n.02, jun 1999.

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