segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Perseguida por acaso



Especialmente para Guilherme Silveira, o aniversariante que me levou a persegui-la
Era noite da sexta-feira de 16 de outubro de 2009. O Figueirense enfrentava o Juventude em casa pela 30ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B. A partida passava numa TV de 42 polegadas, se não me engano, no Santa Hora, choperia que fica ali perto do Shopping Iguatemi, no Santa Mônica. Era uma boa escolha para comemorar o aniversário de um colega figueirense. Partimos pra lá. Logo na porta do estabelecimento, três mulheres, que entravam na nossa frente, me chamaram a atenção, porque uma delas, aparentemente, tinha um pouco mais idade que as outras duas.

Procuramos a mesa do torcedor e aniversariante do dia, que sem dúvida estaria de frente para a telona. Depois de sentada, também diante do jogo, percebi que a jovem senhora, que eu notara na entrada, estava sentada abaixo da televisão. Ela acompanhava o ritmo de Will Survive com os braços, ombros e cabeça. Tinha cabelo chanel, pintado com cor de mel, vestia um casaco verde claro, não me lembro se estava frio, ou fresco naquele dia. A iluminação ambiente a favorecia. Os olhos pequenos observavam atentamente a banda, ato, que era intercalado com os goles de chope e a troca de palavras com as meninas que estavam na sua mesa ou com os garçons que passavam por ali.

Uma das moças, a nº 1, vestia uma blusa de manga comprida azul “bebê”, calça jeans e tênis, a nº 2, um vestido preto e meia calça preta, seus pés montavam um salto 10 centímetros. A observada tinha lábios finos, marcados pelo tempo, esse que marca tudo e do qual sempre precisamos mais um pouco. A cada término de música, as mãos vinham de encontro uma com a outra, para bater palmas, como uma fã que não perde os shows de seu(s) ídolo(s). Ela interagia com o corte chanel, colocando-o para trás da orelha. Mais de uma vez, a flagrei olhando fixamente para um ponto.

Aqui na mesa do aniversariante, mais gente chegava, e nos apertávamos pra entrarmos todos em volta do colega que completava mais um ano de vida. Mudei de posição, mas o alvo ainda estava sob controle, agora mais direto, estava exatamente de frente para mim. Deveria tomar mais cuidado e tentar ser um pouco mais discreta. Olhava para a TV, tomava um chope, conversava com o pessoal da minha mesa, sem deixar de prestar atenção um segundo na minha simpática senhora, que agora estava com os braços em cima da mesa e conversava com as meninas. Ela tinha um olhar materno.

A nº 1 tinha jeito de menina “muleca”, sentada numa cadeira com as pernas esticadas apoiadas no acento de uma outra, lembra minha mãe e minha irmã que sempre fazem isso, e dizem que é “para prevenir as varizes”. Os pequenos olhos, sempre atentos na banda ou no ponto fixo que ela escolhia aleatoriamente, não chegaram a cruzar com os meus. Coisa rara, porque sempre quando estou observando uma pessoa [mania minha desde que me conheço], ela acaba me encarando de volta. A aliança na mão esquerda me declarava o compromisso. Com quem, que não estava ali naquela hora? Os acessórios discretos, talvez fossem pra não chamar a atenção, mas ela por si só já despertava curiosidade. O anel com uma pedra preta na mão direita, um colar tímido no decote discreto, um pingente redondo em espiral numa corrente fina. Estava arrumada com muita delicadeza e discrição para não atrair olhares a si, mas ao contrário do seu desejo, eu a observava cada vez mais, e não só observava, mas anotava cada inspiração e expiração.

A essa altura, e com tantas observações, criei uma hipótese, quase um dogma, que acreditei cegamente. De que a minha delicada senhora era a mãe das meninas e de um, ou mais, integrantes da banda. E que ela ia a todas as apresentações do filho, como um cristão vai a missa toda semana. Depois de algumas as anotações e goles de chope, ela passou gloss rosa, nos lábios alegres, levantou e foi ao toalete.

O baterista de cabelo preto pressionava os lábios, como o movimento de “tirar o excesso de batom”. Vestia camiseta branca, calça e tênis de futsal pretos. A barba e cavanhaque baixos lhe davam uma aparência mais sexy. O vocalista e baixista usava camiseta preta, calça jeans e tênis estilo esqueitista, marcava o ritmo das canções batendo o pé no chão, e de vez em quando dava uns pulinhos. Ela voltou. Aos acréscimos do segundo tempo do jogo, o show terminou. E eu queria confirmar que a minha perseguida era a mãe do vocalista, agora com toda a convicção. Era hora de ver se a jovem senhora era realmente quem eu pensava ser. As meninas conversavam com um garçom. O vocalista passou pela mesa e comprimentou-as, [minhas expectativas aumentaram intensamente...] mas não ficou, nem elas saíram [...e foi por água abaixo em menos de um minuto]. O baixista depois de passar no caixa, provavelmente para receber seu couvert, foi embora carregando a mochila num ombro só.

A próxima banda começou a tocar, e ela do mesmo jeito que antes acompanhava a música, marcando o ritmo, mas não prestava mais a mesma atenção nos músicos como outrora. O jogo terminou e o Figueira alcançava a liderança da Série B daquele ano, ganhou do Juventude por 3X1. Depois de refutada a minha hipótese, deixei a simpática senhora marcando a batida de Samba a dois, de Los Hermanos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será analisado antes de ser publicado.
Obrigada por visitar este blog!